terça-feira, 26 de outubro de 2010

Redes sociais abrem espaço para negociar empréstimos

Cada vez mais badaladas, as redes sociais ganharam um novo papel, o de banco. A motivação surgiu em 2008, quando estourou a crise financeira mundial que secou o crédito do mercado não apenas para as empresas, mas também na ponta do consumo. O cenário de escassez de recursos abriu espaço para um novo modelo de negócios: as comunidades de empréstimo. Pelo menos 35 sites, espalhados principalmente pelos Estados Unidos e Europa, atuam como plataforma de conexão entre pessoas que precisam de recursos e aquelas que têm dinheiro de sobra para investir.

A moda ficou conhecida no exterior como “peer-to-peer lending”, difundida principalmente pelos sites Kiva, Lending Club, Zopa e Prosper. Inspirado nas experiências internacionais, o modelo desembarcou no Brasil em abril com a estreia do site Fairplace. Há cinco meses no ar, a comunidade com mais de 10 mil usuários cadastrados acaba de alcançar a marca de R$ 1 milhão em empréstimos pulverizado em mais de 300 operações entre pessoas físicas.

Idealizado pelo administrador de empresas Eldes Mattiuzzo, o Fairplace chega em um mercado adepto das redes sociais, com alto spread bancário e forte demanda por crédito. “Foram esses fatores que motivaram o negócio”, explica Mattiuzzo. Quem recorre à plataforma como forma de aquisição de crédito tem como objetivo principal saldar dívidas com juros elevados, como cartão de crédito e cheque especial; investimento no negócio, seja para troca de maquinário ou expansão; até reforma da casa; compra de móveis; pagamento dos estudos ou do intercâmbio para fora do país.

“Aqueles que precisam de dinheiro, fazem um cadastro no site com todos os seus dados pessoais que são checados e passam por consulta no Serasa Experien que emite uma classificação de risco da pessoa. Elas poderão se encaixar no nível triplo A, até H, de acordo com o endividamento”, explica Mattiuzzo. Quanto mais próximo do triplo A, melhor é a classificação de quem solicita o empréstimo. Aqueles que estão acima do nível D não chegam sequer a ter o pedido publicado no site.

Definido o índice de risco do usuário, começa o leilão do empréstimo. A pessoa que solicita o dinheiro, deve informar o valor, taxa e prazo de pagamento, que pode variar entre 12 e 24 meses. O pedido máximo de empréstimo é de R$ 5 mil. “Com o pedido publicado, os investidores entram fazendo as ofertas até que se atinja o valor desejado. No final, as taxas mais baixas são selecionadas para oferta do dinheiro.” Em média, o montante final é constituído de cerca de 30 a 50 microempréstimos. “Não é apenas uma pessoa que desembolsa o valor total. Se a pessoa pede R$ 3 mil, uma pode oferecer R$ 200, outra R$ 300, até que o valor seja atingido. Com isso, o risco é pulverizado”, explica o criador do Fairplace.

Com o fim do leilão, que tem duração de 14 dias, o valor integral é creditado na conta do usuário. A cada mês, o site envia automaticamente um boleto eletrônico de cobrança com multa e juros de mora caso haja atraso no pagamento. Quitada a dívida, os valores são distribuídos, pelo próprio site, para os investidores que participaram daquela negociação. “Se a pessoa ficar inadimplente, enviamos o nome para o Serasa e fazemos a cobrança judicialmente. A empresa é responsável por tudo”, explica Mattiuzzo.

O volume médio de empréstimo é de R$ 3,8 mil a uma taxa média de 3,2% ao mês. “Mas isso varia bastante, porque tem pessoas de baixíssimo risco que consegue taxa de 1,5% ao mês.” Dos usuários que solicitam crédito, o site cobra uma taxa de serviço de 5% para empréstimos de um ano, e 8% para empréstimos de dois anos, além de uma tarifa de cadastro de R$ 50, todas debitadas apenas em caso de sucesso do empréstimo. Para os investidores, a taxa de administração é de 2% sobre as parcelas recebidas.

Risco

Os índices de inadimplência, tão temidos pelo investidor, ainda não são mensurados pelo pouco tempo de funcionamento da plataforma, mas Mattiuzzo garante que os registros de atraso chegam a 6% do volume total de negócios. “É muito bom e bem abaixo do mercado”, avalia. O que começou apenas como uma rede social para pessoas físicas, deve iniciar o próximo ano com serviços estendidos aos micro e pequenos empresários. “Iniciaremos o micro empréstimo para pessoas jurídicas até porque hoje já temos uma demanda de 25% do que é emprestado tem como destino o investimento no negócio”, explica Mattiuzzo.